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sábado, 10 de maio de 2014

História social da criança e da família

 Minhas Reflexões do livro:
ARIES, Philippe. História social da criança e da família, p. 225-271

Durante os séculos XVI e XVII a família se transformou devido a mudanças na relação com a criança, principalmente nos ingleses faltava afetividade com suas crianças. Nesse período as crianças de sete ou nove anos aprendiam na casa dos outros. A aprendizagem era através dos serviços gerais. A troca de crianças entre as famílias inglesas era comum, enquanto a família italiana achava este costume desumano.  De um modo geral o ensino era confiado a seu mestre que aprendiam o dever de servir bem. O serviço doméstico para as crianças como aprendizagem era tão estimado pelas famílias que havia diversos poemas exaltando o bom servidor. Lavar as louças, limpar a casa e arrumar a cama eram como se fosse um estágio para os próximos serviços.

Os professores deveriam manter o celibato, uma vez que em sua casa receberiam crianças para instrui-las conforme um processo de 1677. Os meninos viviam separados das meninas. Os recém-nascidos eram enviados para a casa de suas amas. Desde os séculos XVII, mesmo antes de Rousseau, os educadores moralistas ensinavam suas mães a cuidarem de seus filhos. Porque quando as amas não tinham leite os bebes recebiam leite de vaca sem higienização. Posteriormente as amas de leite passaram a conviver na casa da família, evitando assim o envio de crianças e o distanciamento das famílias.

Através da aprendizagem doméstica o mestre transmitia não a seu filho, mas ao filho dos outros o valor da vida e todo seu conhecimento e experiência. A palavra garçom na língua francesa indicava um rapaz novo ou jovem seguidor doméstico.  Posteriormente essa palavra foi usada para os empregados de restaurantes. Os serviços de mesas passaram com o tempo ser exclusividade dos filhos, e não de empregados pagos, porque além de ser honroso não bastava comporta-se bem à mesa, mas era necessário também servir bem. Enquanto as crianças aprendiam serviços domésticos, não havia lugar nem tempo para a escola. Esta era designada aos clérigos e latinófones.

Próximo ao século XV, a aprendizagem se torna mais pedagógica. O ensino da caça, o uso de armas e outras aprendizagens tornam-se metódica. Não havia divisão das faixas etárias como estamos acostumados. As crianças eram consideradas adultas em miniaturas e aprendiam a arte da guerra. A convivência das crianças com os adultos e velhos geravam experiência e aprendizagem e maturidade nelas. O envio dos filhos às demais casas para a aprendizagem doméstica, e receber outros filhos nas suas casas, a família não desenvolvia muito a afetividade com seus filhos. A realidade das famílias com as crianças eram mais moral e social que sentimental, as famílias mais ricas primavam pelo nome e a honra familiar. A partir do século XV, a realidade escolar para as crianças passou a ser mais manifesta. A escola não era apenas dos clérigos, mas ela marca a passagem da infância para à juventude e os educadores tinham o rigor do ensino da moral isolando a juventude do mundo imoral dos adultos.

As famílias começam a desenvolver a afetividade com as crianças neste período, e já não enviavam mais seus filhos a outras famílias, mas começam a cuidar e ensinar seus próprios filhos. As escolas eram distantes e o período que as crianças passavam no colégio era menor que a aprendizagem cotidiana. Os mestres eram os responsáveis por acompanhar sempre a criança que às vezes dormiam na casa do seu preceptor. Nos meados do século XVII a afetividade torna-se mais presente entre as famílias e seus filhos que passam mais tempo em casa. As meninas ainda demoram em ir à escola e permanecem em casa na aprendizagem cotidiana. Pelos séculos XVIII e XIX elas começam a frequentar as escolas. Não devemos esquecer que a escolarização antes era prioridade das camadas média da hierarquia. A alta nobreza é que antes eram escolarizadas.

Por volta do século XII até o século XVII o filho primogênito era preparado para herdar sozinha a herança do pai, para manter o nome da família e o valor social que implicava nos bens. Os demais filhos eram preparados com a impossibilidade de disputar com o irmão mais velho porque o pai temia que a partilha da herança entre os demais filhos, enfraquecia o patrimônio da família, perdendo o prestigio social e o nome da família. Entre o século XVII os moralistas educadores começam a contradizer esse conceito. O abade Goussaut afirma que há na verdade uma injustiça com os filhos menores dessas famílias neste tempo e questiona: O que fizeram os filhos para merecerem injustiça? E muitas vezes as famílias encerravam seus filhos nos mosteiros às vezes sem a vocação e contra a vontade dos mesmos. Mesmo com as opiniões contrárias como a de Villele no inicio do século XIX a família sentimental se destaca. A família casa tinha um conceito de empresa independente e se torna menos interessante neste momento. 

Era ensinada nessa ocasião que o êxito material e bom emprego eram uma boa reputação, o bom nome da família, a amizade e a harmonia que eram sinônimos de sucesso, diferentes dos conceitos de hoje. Também as discussões da alfabetização em casa em contraposição a educação publica e particular eram temas da época. Havia críticas sobre a escola, alguns defendiam a aprendizagem doméstica, que consistia em apender bons modos e comportamentos, em vez da escola que ensinava a leitura e as crianças estavam sujeitas as impurezas e de tornarem-se maliciosas. Os críticos diziam que as crianças aprendessem com a vida que com os livros, pois o grande livro da vida é o mundo. Por ser a escola um fenômeno recente, durante o século XVII existiram muitas críticas a ela.

Havia os que defendiam a escola como De Grenaille admitiam que a escola ensinasse a socialização, o falar em público e o convívio social. Os tratados de civilidade como os bons modos à mesa, alguns conceitos de etiquetas e o comportamento diante de seu senhor, as regras de moral, o pensar ativo e as ações eram tratados ensinados com dedicação. Os tratados de regras de amor enfatizava o tratamento com a mulher, a bondade e respeito, também ensinava a preservação da amizade. Todos estes tratados iniciavam o jovem ou a dama para a vida em sociedade. Os bons pedagogos ensinavam não somente a leitura, mas as boas maneiras, os bons gestos, caminhar corretamente etc.

Outro tratado de 1671 era mais orientações aos pais quanto ao comportamento das crianças, se desobedecessem aos mais velhos, cometessem maus tratos com os criados, os pais deveriam corrigir com repreensão e lições de moral. Quando o comportamento era ótimo, e as crianças obedecessem, os pais deveriam elogiar. No caso de roubo de uma mentira ou algo mais grave, era recomendada a surra com vara, a punição para o arrependimento e bom comportamento. Nas cidades o relacionamento das pessoas eram nas praças, nas ruas elas se encontravam para um bate papo ou qualquer outra conversa corriqueira.

Alberti faz uma análise das casas dos quartos e das camas nos séculos XVII. As camas eram desmontáveis, os moveis não eram caros. O quarto era local de descanso, mas às vezes não era só o casal que usava o quarto, mas também os velhos descansavam, as mães davam a luz, os velhos morriam e também era lugar de meditação. Existia a casa grande e as pequenas. O conceito de casa grande, é a quantidade de pessoas, se houvessem muitos membros e criados, a casa era considerada grande.


Da família Medieval à família moderna, os pais não mais mandavam os filhos para famílias estranhas, mas a afetividade agora estava presente entre os membros, às famílias ajudavam os filhos nas atividades escolares, o cuidado com a saúde era mais autentico neste período. Os séculos XVI e XVII mudaram a situação das crianças junto as suas famílias.

Geziel Silva Costa

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